terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

CRÓNICA: THE IMITATION GAME

Título Original: The Imitation Game
Título Nacional: O Jogo da Imitação
Pontuação: ★ ★ ★ ★ ☆

Realização: Morten Tyldum
Argumento: Graham Moore
Baseado em Alan Turing: The Enigma de Andrew Hodges
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, 
Rory Kinnear, Charles Dance, Mark Strong
Info: Biografia | Drama | Thriller | $14M | 114 min



Em estreia no cinema de língua inglesa, Morten Tyldum lança para cima da mesa um forte Jogo da Imitação, que no passado domingo (22 de Fevereiro) competiu em oito categorias das estatuetas douradas (Óscares para os amigos) - incluindo a de melhor filme, melhor ator principal, melhor atriz secundária e ainda de melhor realização - tendo arrecadado o prémio de melhor argumento adaptado. Não foi por acaso.

Depois de Headhunters (2011 – excelente crime thriller), o cineasta norueguês leva para a tela a história do matemático e criptanalista britânico Alan Turing, um dos responsáveis pela decifração das mensagens encriptadas pela Enigma, a máquina utilizada pela Alemanha para proteger a sua correspondência durante a Segunda Guerra Mundial. Mas The Imitation Game não fica por aí, não fica pelo filme d’époque que enaltece os feitos de um homem e de uma nação. Conta-nos antes a história de um personagem demasiado complexo para o meio em que vive, à frente do seu tempo e vítima de uma necessidade terrível de adaptação social. Este é o cenário que Benedict Cumberbatch explora de forma exemplar, mostrando porque é um dos melhores atores da atualidade. Construindo um Turing sherlockiano,  (co)move o espectador tanto na esperança e perseverança com que procura o sucesso e explora o seu génio como no desespero do confronto com os seus limites.

Apesar da crítica sobre a imprecisão histórica dos eventos e personagens presentes no filme, os trabalhos de realização e argumento fundem-se para retratar parte da vida de uma personalidade bastante complexa. Uma vez que o objetivo era a criação de uma experiência que envolvesse o espectador e que o transportasse emocionalmente para um outro patamar, e dado que seria impensável o retrato de todos os pormenores da vida de Turing (quer por serem desconhecidos quer por uma questão de limitação de tempo), os ajustes feitos ao nível do argumento são perfeitamente justificáveis pela construção do resultado e mensagem finais.

Keira Knightley no papel da colega de Turing, Joan Clarke - nomeada para o óscar de melhor atriz secundária - tem uma participação sólida, que sustenta e enaltece a personagem de Cumberbatch, valiosa o suficiente para valer a nomeação, porém não tanto para valer o prémio. Digno ainda de menção honrosa é o desempenho de Mark Strong, pelo papel do agente do MI6 Stewart Menzies, preponderante para o desenrolar dos eventos a favor do criptanalista, mostrando uma presença forte mesmo por detrás da subtileza do seu papel secundário.

Todo o filme é embalado de forma imaculada por mais uma fantástica produção musical de Alexander Desplat, nomeado para dois óscares este ano (e bem) tanto por esta banda sonora como da de The Grand Budapest Hotel de Wes Anderson (com a qual acabou mesmo por vencer o prémio).

Esta é portanto uma película que ficará para a história como exploradora da natureza do grande Alan Turing, despertando decerto aos espectadores uma vontade de conhecerem mais deste ícone (e há muito mais para além do que The Imitation Game aborda), cujo trabalho encaminhou o desenvolvimento científico para o caminho que estamos hoje a percorrer.

Homossexualidade é também uma das temáticas que marcam o filme, sendo explorada na profundidade adequada no seu decorrer. A orientação sexual foi algo que Turing tentou proteger em vida e que acabou por ser o rastilho que levou à sua morte. Como muitos na Inglaterra daquela época, quando desvelada a sua homossexualidade, Alan Turing teve de optar entre a prisão ou a castração química. Escolhida a segunda de modo a poder dar continuidade ao seu trabalho científico, o matemático acabaria por falecer em casa vítima de envenenamento com cianeto, tratando-se presumivelmente de suicídio. Fica a dura mensagem de que ainda em meados do século XX – não foi assim há tanto tempo – a vida não era fácil para as mulheres e ainda menos para os homossexuais.

The Imitation Game deixa presente o quanto caminhámos até aos dias de hoje e, na consciência de cada um, o quanto podemos ainda percorrer rumo a uma sociedade mais abrangente e tolerante, sob a sombra da perda de uma personalidade que abandonou o mundo sem lhe ter sido dada a distinção devida.

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