sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

CRÓNICA: KINGSMAN: THE SECRET SERVICE

Título Original: Kingsman: The Secret Service
Título Nacional: Kingsman: Serviços Secretos
Pontuação: ★ ★ ★ ★ ☆

Realização: Matthew Vaughn
Argumento: Jane Goldman & Matthew Vaughn
Adaptação de The Secret Service de Mark Millar e Dave Gibbons
Elenco: Colin Firth, Michael Caine, Taron Egerton, Samuel L. Jackson, Mark Strong
Info: Comédia | Ação | Aventura  | $81M | 129 min



Assistir ao trailer de Kingsman provoca a sensação de que estamos perante um filme que, apesar do seu elenco de luxo, é mais uma produção formatada, de alto orçamento, que estoura dinheiro em CGI e em que parece que alguém se esqueceu de que ter um argumento também dá jeito para se fazer cinema. Surpreendentemente, este não é um desses filmes nem tão pouco um filme para levar os garotos a ver no fim de semana, já que está a chover (o filme está classificado como M/16).

Depois de Kick-Ass (2010) e X-Men: First Class (2011) e mais de uma década depois de Layer Cake (2004 – outro crime thriller que vale a pena, com Daniel Craig como protagonista), Matthew Vaughn regressa à cadeira de realizador com esta adaptação da banda-desenhada de espiões “The Secret Service”. 

O argumento não é intrincado: uma organização super-secreta inicia um  recrutamento para selecionar um candidato aos seus quadros, enquanto um temível vilão prepara um plano maquiavélico para controlar a população mundial. E se tudo se poderia resumir ao percurso do candidato underdog entre concorrentes aparentemente mais favorecidos, a verdade é que este também não é um desses filmes. 

Então que filme é que vem a ser este? Kingsman tem tanto de britânico quanto de mirabolante. À imagem de James Bond, os personagens principais são agentes secretos que vestem o seu fato à medida e que estão instalados na famosa Savile Row londrina, casa do bespoke tailoring. A fachada, uma alfaiataria, claro. A opção de uma mercearia gourmet poderia destoar e acabar com o secretismo. E como todas as agências secretas conhecidas, há um chefe, Arthur (Michael Caine), um agente de campo formidável, Harry Hart (Colin Firth) e um gajo dos computadores, Merlin (Mark Strong). Depois de uma baixa inesperada na organização, o jovem desfavorecido Gary 'Eggsy' Unwin (Taron Egerton) inicia as agressivas provas da recruta, enfrentando um grupo de jovens de sangue azul, introduzindo-se assim o confronto de classes escrutinado pelo cinema britânico. Em paralelo, Richmond Valentine, personificado por Samuel L. Jackson, é um multimilionário filantropo, com uma visão muito própria do que é o melhor para o planeta Terra, que coloca em marcha um plano sádico de controlo populacional. Cabe aos Kingsman, velhos e novos, evitar o genocídio.

Se até aqui ainda parece tratar-se de um filme tipo bolo instantâneo, não desespere! Aborrecido ou previsível são palavras que não ligam com Kingsman. Com um humor que tem tanto de refinado quanto de insano, Matthew Vaughn guia-nos através de um passeio a pé numa pista de carrinhos de choque. Da subtileza de um vilão sopinha de massa com nojo de sangue (põe-no mesmo a chamar pelo Gregório) à delirante cena final ao som de "Pomp and Circumstance" de Sir Edward Elgar, passando pela violência hiperbólica que já nos presenteou em Kick-Ass, este é com certeza um candidato a blockbuster surpresa do ano.

Firth e Jackson arrebatam o filme, o primeiro com uma postura deliciosa de agente com muita classe e muito jeito para a pancada, o segundo com uma encarnação satírica de um vilão plenamente consciente que está a lutar por um bem maior. Egerton também desempenha um papel consistente, Mark Strong volta a aparecer como um ator secundário de peso e a ter em muito boa conta, e Michael Caine... bem, é Michael Caine.

Kingsman é um filme que ilude e surpreende, roçando perigosamente os limites entre o humor muito negro e a insanidade, com cenas de violência gráfica e rasgos delirantes de Vaughn (muito ao estilo do seu bom amigo Guy Ritchie), aos ritmos do disco, funk e new wave. Com diversas cenas de ação frenética (em alguns casos parecendo mesmo ceder à pressão da pré-formatação deste estilo) o resultado é uma obra de entretenimento alternativa e arrojada, que certamente dividirá a crítica por ter tanto de brilhante como de idiota. Deste lado, a crítica não tem dúvida: Kingsman é uma excelente surpresa!

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