domingo, 8 de março de 2015

CRÓNICA: BLACK SEA

Título Original: Black Sea
Título Nacional: Mar Negro
Pontuação: ★ ★ ★ ☆ ☆

Realização: Kevin MacDonald
Argumento: Dennis Kelly
Elenco: Jude Law, Scoot McNairy, Ben Mendelsohn, David Threlfall
Info: Aventura | Thriller | (budget não divulgado) | 114 min



Das Boot, The Hunt for Red October, Crimson Tide. Estes são alguns filmes que têm num submarino o seu palco principal. Têm também em comum terem obtido pelo menos 3 nomeações para os óscares (o primeiro teve 6). Este é um dos primeiros desafios com que se depara o realizador Kevin MacDonald – The Last King of Scotland (2006), State of Play (2009) e Touching the Void (2003).

Por sua vez, o argumentista estreante Dennis Kelly – alguns conhecerão o seu trabalho na série britânica Utopia – apresenta-nos a história de Robinson (Jude Law), capitão de submarino profissional, que acaba de ser dispensado. Quem diria? Diz que até é uma profissão com saída... A injustiça que sente perante a empresa a que dedicou a sua vida a um preço muito elevado, o da sua família, leva-o a embarcar (literalmente) numa jornada no Mar Negro em busca de um submarino alemão, carregadinho de ouro e afundado durante a Segunda Guerra Mundial, que está na mira dos seus ex-empregadores. Movido por esta vontade de lhes mostrar o dedo do meio, junta uma tripulação composta por ingleses e russos e consegue o investimento necessário para alugar um submarino para esta missão.

O tempo que nos é dado para conhecer a fundo a história de cada um dos tripulantes acaba por se revelar diminuto, fazendo com que não se ganhe a aproximação e o afeto desejados com cada personagem, em prejuízo do trabalho de Kelly. Porém, com o desenrolar do filme apercebemo-nos que todas estas personagens, com os seus carismas, feitios e obsessões, são pessoas com defeitos que se vão revelando, ao ponto de o espectador questionar “mas afinal quem é que são os bons?”. Esta particularidade do trabalho do argumentista, não criando aquele típico herói, é preponderante para permitir que o público se envolva no ambiente criado. Adicionalmente, o facto de estarmos perante um grupo de homens que dedicaram a vida a trabalhar para uma empregador cruel e desinteressado, em prejuízo de saúde, casamento ou felicidade, faz com que, em todo o caso, o espectador deseje que a demanda seja bem-sucedida.

O desempenho de Jude Law é muito bom, encarnando um capitão Robinson durão e pragmático, muito distante das personagens de menino bonito que marcaram a ascendência na carreira do ator. Também um personagem com os seus defeitos e virtudes, o filme explora o trabalho deste homem a lutar com a dificuldade de ser um capitão-treinador, atenuando as divergências de uma equipa disfuncional e focando os seus esforços no objetivo final. E como nem tudo é pragmatismo, vemos também o Law sensível de sempre a receber a ovelha tresmalhada do grupo por baixo da sua asa, Tobin (Bobby Schofield), um adolescente que caiu no submarino de pára-quedas (não literalmente). Em igual situação está também Daniels, interpretado pelo ascendente Scoot McNairy (Argo, 12 Years a Slave), subordinado do investidor que é também forçado a juntar-se à missão. Olhado por muitos como representante da madrasta sociedade, economista de gravata num submarino, é também segregado e faísca para muitos rastilhos.

Mesmo fugindo de um enredo convencional, não podemos deixar de reparar em alguns clichés deixados pela dupla Kelly-MacDonald tais como a namorada grávida, a fotografia da família distante na carteira do capitão ou a personagem claustrofóbica no submarino. O enredo também começa morno, mas à medida que avança, adquire-se um certo momentum oferecendo-nos um ou outro twist surpreendente.

No global estamos perante um filme que nos envolve com o meio e com a missão, que podia explorar um pouco melhor a claustrofobia e a morfologia labiríntica de um submarino – os planos capturados em movimento são poucos – mas que nos presenteia com uma performance alternativa de Jude Law, algumas surpresas no enredo e uma abordagem alternativa de um modelo de filme um tanto ou quanto comum. Tem ainda a vantagem de nos fazer viajar num submarino em melhor estado que os adquiridos por Portas (sim, é mesmo este).


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