Título Original: Black Sea
Título Nacional: Mar Negro
Pontuação: ★ ★ ★ ☆ ☆
Realização: Kevin MacDonald
Argumento: Dennis Kelly
Elenco: Jude Law, Scoot McNairy, Ben Mendelsohn, David Threlfall
Info: Aventura | Thriller | (budget não divulgado) | 114 min
Das Boot, The Hunt for Red October, Crimson
Tide. Estes são alguns filmes que têm
num submarino o seu palco principal. Têm também em comum terem obtido pelo
menos 3 nomeações para os óscares (o primeiro teve 6). Este é um dos primeiros
desafios com que se depara o realizador Kevin MacDonald – The Last King of
Scotland (2006), State of Play (2009) e Touching the Void (2003).
Por sua vez, o
argumentista estreante Dennis Kelly – alguns conhecerão o seu trabalho na série
britânica Utopia – apresenta-nos a história de Robinson (Jude Law), capitão de
submarino profissional, que acaba de ser dispensado. Quem diria? Diz que até é
uma profissão com saída... A injustiça que sente perante a empresa a que dedicou a sua vida a um preço muito elevado, o da sua família, leva-o a embarcar (literalmente)
numa jornada no Mar Negro em busca de um submarino alemão, carregadinho de ouro
e afundado durante a Segunda Guerra Mundial, que está na mira dos seus ex-empregadores.
Movido por esta vontade de lhes mostrar o dedo do meio, junta uma tripulação composta por ingleses e russos e consegue o investimento necessário para
alugar um submarino para esta missão.
O tempo que nos é dado
para conhecer a fundo a história de cada um dos tripulantes acaba por se revelar
diminuto, fazendo com que não se ganhe a aproximação e o afeto desejados com
cada personagem, em prejuízo do trabalho de Kelly. Porém, com o desenrolar do
filme apercebemo-nos que todas estas personagens, com os seus carismas, feitios
e obsessões, são pessoas com defeitos que se vão revelando, ao ponto de o
espectador questionar “mas afinal quem é que são os bons?”. Esta
particularidade do trabalho do argumentista, não criando aquele típico herói, é preponderante para permitir que o
público se envolva no ambiente criado. Adicionalmente, o facto de estarmos
perante um grupo de homens que dedicaram a vida a trabalhar para uma
empregador cruel e desinteressado, em prejuízo de saúde, casamento ou
felicidade, faz com que, em todo o caso, o espectador deseje que a demanda seja bem-sucedida.
O desempenho de Jude Law
é muito bom, encarnando um capitão Robinson durão e pragmático, muito distante
das personagens de menino bonito que marcaram a ascendência na carreira do
ator. Também um personagem com os seus defeitos e virtudes, o filme explora o
trabalho deste homem a lutar com a dificuldade de ser um capitão-treinador,
atenuando as divergências de uma equipa disfuncional e focando os seus esforços
no objetivo final. E como nem tudo é pragmatismo, vemos também o Law sensível
de sempre a receber a ovelha tresmalhada do grupo por baixo da sua asa, Tobin (Bobby
Schofield), um adolescente que caiu no submarino de pára-quedas (não literalmente). Em igual
situação está também Daniels, interpretado pelo ascendente Scoot McNairy (Argo,
12 Years a Slave), subordinado do investidor que é também forçado a juntar-se à missão.
Olhado por muitos como representante da madrasta sociedade, economista de
gravata num submarino, é também segregado e faísca para muitos rastilhos.
Mesmo fugindo de um enredo convencional, não podemos deixar de
reparar em alguns clichés deixados pela dupla Kelly-MacDonald tais como a namorada grávida, a fotografia da família
distante na carteira do capitão ou a personagem claustrofóbica no submarino. O enredo também
começa morno, mas à medida que avança, adquire-se um certo momentum oferecendo-nos um ou outro twist surpreendente.
No global estamos perante
um filme que nos envolve com o meio e com a missão, que podia explorar um pouco melhor a claustrofobia e a morfologia labiríntica de um submarino – os planos capturados em movimento são
poucos – mas que nos presenteia com uma performance alternativa de Jude Law,
algumas surpresas no enredo e uma abordagem alternativa de um modelo de filme um tanto ou quanto comum. Tem ainda a vantagem de nos fazer viajar num submarino em melhor estado que os
adquiridos por Portas (sim, é mesmo este).
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