quarta-feira, 11 de março de 2015

CRÓNICA: CHAPPIE

Título Original: Chappie
Título Nacional: Chappie
Pontuação: ★ ★ ★ ☆ ☆

Realização: Neill Blomkamp
Argumento: Neill Blomkamp & Terri Tatchell
Elenco: Sharlto Copley, Dev Patel, Watkin Tudor Jones, 
Yo-landi Visser, Hugh Jackman, Sigourney Weaver
Info: Ação | Ficção Científica | Thriller | $49M | 120 min



Depois do brilhante sleeper hit com que se estreou no cinema – District 9 (2009) – as expectativas para Chappie de Neill Blomkamp, tinham de ser elevadas. Aliás, para todos aqueles que se maravilharam com a primeira longa-metragem do realizador sul-africano e que assistiram ao malogrado Elysium (2013), Chappie poderia ser a obra que comprovava o valor de Blomkamp. No entanto, o resultado está aquém do seu primeiro filme e redireciona as esperanças de muitos, para desespero de outros, para a recém-anunciada sequela de Alien.

Num futuro próximo, o palco é Joanesburgo, a cidade natal do realizador (onde é que eu já vi isto?). O crime tomou as ruas “de assalto” e o combate à criminalidade torna-se cada vez mais complicado à custa de muitas baixas no corpo policial. Esta é a informação que nos é passada em formato de bloco noticioso na cena inicial de Chappie juntamente com a solução que passará pela inclusão de robôs-polícias, os scouts, no ringue da luta contra o crime. O seu criador, Deon Wilson (Dev Patel), ao serviço de uma empresa de armamento liderada por Sigourney Weaver, tem no entanto aspirações maiores do que a criação de uma matilha de robocops: pretende criar a primeira verdadeira inteligência artificial – capaz de sentir, aprender, adaptar, ser criativa e até escrever poesia. Vá-se lá perceber o porquê de uma empresa de armamento rejeitar tal ideia. Enfim. Quando Wilson é raptado por um grupo de delinquentes, entre os quais estão Ninja e Yo-Landi Visser (rappers da banda sul-africana Die Antwoord), vê-se forçado a testar a sua criação numa unidade policial inutilizada em combate. E assim nasce Chappie, um bebé-robô que vai crescer num bairro problemático e com pais que têm tanto de cultura literária quanto sentido de estética. O seu propósito é aproveitar a ingenuidade de Chappie para o levar a auxiliá-los numa série de crimes para que possam saldar uma dívida pendente ao delinquente-mor, e tudo isto enquanto o colega invejoso de Wilson, Vincent Moore (Hugh Jackman), tenta eliminar a sua criação.

Não é surpresa encontrarmos um pano de fundo satírico-crítico social neste filme de Blomkamp: depois do ensaio sobre o apartheid e a xenofobia que pudemos observar em District 9 e do gap hiperbólico de classes apresentado em ElysiumChappie faz uma abordagem do confronto inato vs. adquirido, da exploração da inocência e põe-nos a pensar até um pouco sobre clonagem.

Sharlto Copley, que parece ser amuleto para Blomkamp, volta ao plantel principal dando vida de forma imaculada ao desajeitado homem de lata através de motion-capture, do descontrolo de movimentos do início da vida ao caminhar street gangsta muthafucka que acaba por adquirir. Há que salientar o trabalho notável de efeitos especiais que tornam este personagem tão realista. Depois temos uma série de atores improváveis no papel de heróis. Dev Patel, que parece fazer bem o salto para um filme de ação (sabe que isto não é o Quem quer ser Milionário?), e os tão extravagantes como na realidade Ninja e Yo-Landi, que se estreiam no grande ecrã. Finalmente, nota artística para Hugh Jackman, que interpreta um vilão impiedoso e sem escrúpulos de forma brilhante, destacando-se enquanto ator e trazendo muito corpo ao elenco (tanto figurada como literalmente).

Tudo parece alinhado em ideias e personagens, para um grande sucesso para Blomkamp. E sê-lo-ia caso a narrativa tivesse tido tanta atenção como a linguagem corporal de Copley ou a perfeição visual de Chappie. O argumento desenhado, escrito conjuntamente com a sua mulher Terri Tatchell, deveria fazer-nos pensar sobre aquilo que constitui a natureza humana (não falhando por completo aí), mas deixa-nos no final o sabor amargo da subexploração. O cineasta sul-africano parece não conseguir encontrar o equilíbrio entre o filme de ideias e a ação exacerbada, evidenciando-se um contraste entre essas duas frentes. Resta ao espectador admirar a performance de Copley num Chappie que conquista o carinho de quem o vê crescer, louvar o honrado patriotismo de Blomkamp que volta a tomar Joanesburgo como seu palco e a incluir no elenco Sharlto Copley e a banda Die Antwoord, e levar para casa como TPC as ideias que nos são apresentadas que, apesar de pouco aprofundadas, não perdem o seu valor. Por tudo isto, Chappie é um filme que nos mostra mais uma vez a distopia que já caracteriza Neill Blomkamp e que vale a pena ir ver.

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